Marcante


Esse post não é uma resenha. Pode ser classificado como homenagem, puxa-saquismo, ou o que vocês acharem mais apropriado xD. O caso é que sou suspeita pra falar de um filme que sou fã. Eu queria fugir do óbvio e não falar do meu filme favorito logo nos primeiros posts, mas foi mais forte do que eu. Se eu não o fizesse logo, teria a impressão de que o blog não é meu.
Dezenas de amigos e conhecidos foram bombardeados com minhas indicações fervorosas para assistirem Antes do Amanhecer (Before Sunrise, 1995), agora chegou sua vez, querido(a) leitor(a). Por sorte as pessoas com quem convivo em sua maioria são sensíveis o suficiente para enxergar a beleza e a profundidade dessa obra que para alguns soa monótona. Digo isso porque Antes do Amanhecer é daqueles filmes que as pessoas amam ou odeiam. Mas ficar indiferente é impossível. E ele tinha tudo pra dar errado. Notem a sinopse (by cineplayers):
Jesse (Ethan Hawke) conhece Celine (Julie Delpy) em um trem pela Europa e se identifica bastante com o seu jeito. Ele acaba a convencendo a descer na mesma estação que ele, para ficarem juntos uma noite inteira, já que ele pegará o avião de volta para os EUA pela manhã. Só que nesta noite uma paixão avassaladora irá surgir entre os dois, tornando o inevitável e próximo adeus cada vez mais difícil.
Pois bem. Eu, que vejo todos os filmes de romance que tenho chance, notei o grande potencial dessa história se tornar um filme de amor água com açúcar, e daqueles bem clichê, ao ler a sinopse. Porém o lindo Richard Linklater, diretor e roteirista em parceria com Kim Krizan, fez uso da simplicidade do enredo um trunfo para desenvolver o filme de amor possível mais gostoso que já vi, e como bônus contemplamos lindas imagens de diversos cantos de Viena, que entrou para meu top 10 de lugares que quero conhecer.
Acredito que quanto mais simples é a história, mais difícil e desafiador é para envolver o público, fazer com que queiram assistir o filme até o fim, e a dupla de roteiristas fazem isso de forma brilhante com um roteiro repleto de longas conversas, que nos fazem conhecer os protagonistas profundamente, ao mesmo tempo em que nos faz refletir junto com eles sobre diversas questões sobre a vida e o mundo em assuntos que não ficaram nem um pouco ultrapassados com o passar dos anos, como a relação dos filhos com os pais, vida e morte, religião, choque entre culturas, amor e relacionamentos. Tudo isso com a naturalidade incrível dos protagonistas, que carregam o filme praticamente sozinhos, tendo muito breves participações de poucos coadjuvantes que nada interferem na história em si, só trazem a tona mais assuntos interessantes para o casalzinho destrinchar. Eu realmente sinto que estou observando-os e percebendo junto com eles o afeto e a paixão crescendo entre Celine e Jesse, ao mesmo tempo em que meu afeto por eles também vai crescendo junto.


Antes do Amanhecer redefiniu minha concepção do que seria um relacionamento ideal. A todo tempo somos cercados de filmes com Romeus e Mr. Darcys, homens perfeitos demais e mulheres que mais parecem super modelos, fazendo os mais ingênuos acreditarem num ideal de amor fantasioso, piegas e que não existe no mundo real, o que de certo modo entretém e cria esperanças, porém também frustra e nos faz distorcer a realidade. Aqui podemos conferir personagens parecidos com aquele seu colega da faculdade, ou com uma moça que você pode encontrar na fila do banco, mas que tem seu carisma e brilho próprio, o que faz deles tão especiais e únicos, mas do que qualquer personagem criado para se encaixar perfeitamente dentro de um estereótipo.
Em Antes do Amanhecer não existem vilões, eles não tem lugar nenhum em específico para visitar nem nenhum problema a resolver ou mistério a solucionar. A história trata-se apenas de duas pessoas compartilhando algo especial, experimentando uma conexão que acontece raras vezes na vida, por pura coincidência, ou destino, fica por sua conta decidir. Assim como fica por sua conta tirar suas conclusões sobre como terminará a história, enquanto sente um absurdo vazio ao ver pela última vez no filme uma compilação dos lugares em que o casal passou, depois que o dia amanheceu. Um final irritantemente perfeito (você entenderá quando ver), que foge do óbvio e dá ainda mais crédito para um filme tão original. Esse recurso usado por Richard Linklater deixa bem claro o quanto nos envolvemos com a história, que é daquelas que ficam na gente depois que acaba.

Trailer.

Observação 1:
Tem mais.
Curioso(a)? Ficou com saudade deles quando o filme acabou? Pois em 2004 foi filmada a continuação, que recebeu o nome Antes do Pôr-do-Sol (Before Sunset), com o mesmos atores, diretor e roteirista, com o diferencial de receber a colaboração dos próprios atores para escrevê-lo, que recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, merecidíssimo.
Só procure se informar sobre este quando assistir o Antes do Amanhecer, ou boa parte do elemento surpresa se perderá. Mas posso dizer que conseguiram retratar bem como aquela noite e a mudança do tempo afetou os personagens, seguindo a mesmo estilo do primeiro: muita conversa e lindas locações.
Uma das raras vezes que uma continuação mantém o mesmo nível do filme anterior.

Observação 2:
Before Sunrise versão nacional.
Em 2009 o universitário carioca Matheus Souza filmou seu primeiro projeto, tudo dentro do campus da faculdade em que estudava. Dá pra notar com muita clareza que Apenas o Fim foi diretamente inspirado na “bilogia” aqui citada do Linklater, passando pelo estilo do roteiro até a direção. Por conta disso ainda não consegui perceber se adorei ou detestei, porque o excesso de semelhanças me causou um certo incômodo (vocês entendem, né, filme favorito...). Não sei ainda se o considero como um plágio ou como uma homenagem. Mas recomendo para aqueles que curtem o estilo, é super bem feito e faz ótimas referências a cultura pop dos anos 90, elementos que marcaram a infância e adolescência dos jovens hoje na faixa dos 20 anos. Um filme com uma proposta diferente das que costumamos ver no cinema nacional.

10 comentários:

Alan Raspante disse...

Nossa, excelente post! Deu pra perceber qe gosta mesmo do filme, hehehe E, bem, merece. O filme é realmente magnífico! Realmente, ele é real!

Só falta eu ver a continuação de 2004 que ainda não vi.

[]s

Alexandre disse...

Esse filme é muitíssimo especial para mim também, usei ele para conquistar o amor da minha vida. Me identifiquei muito com a parte "colega de faculdade" (a arte dos comentários pessoas impessoais). Voltando a película, ela possui diálogos sensacionais, sendo o melhor romance na minha opinião.

renatocinema disse...

Gostei dos dois filmes. Não sou grande fã de comédias românticas "triviais". Gosto quando algo me surpreende e ambas fizeram isso. Apesar da primeira ser melhor que a segunda.
Antes do Amanhecer e Antes do Por do Sol são belas histórias.
Belo site.

Abraços

Rodrigo Mendes disse...

Ju, ótimo blog também estou te seguindo e linkando você. Obrigado pelos comentários.

Before Sunrise é um romance delicioso de ser ver porque é sobretudo bem realizado. Não sou muito fã deste gênero, mas devo admitir que quando há química e um bom roteiro, eu gosto!

Não sabia desta versão nacional, rs!

Bjs.
Rodrigo

Hugo disse...

São dois filmes ótimos, de uma sensibilidade incrível. Poucas vezes um casal teve tanta química no cinema como Ethan Hawke e Julie Delpy.

Vamos esperar, quem sabe em 2014 o trio não resolve continuar a história.

Não sabia sobre este filme nacional, fiquei curioso. Ótima dica.

Bjos

Gabriel Neves disse...

Poxa, que texto ótimo. Nunca vi esse, mas você me deixou com água na boca. Eu não consigo falar do meu filme favorito, sempre acho que esqueço alguma coisa, haha.
Abraços.

Luiz Santiago (Plano Crítico) disse...

JÚRI DE CINÉFILOS


Olá.

O CINEBULIÇÃO o convida para fazer parte de um grupo de cinéfilos cuja intenção é votar e elencar temas relacionados à Sétima Arte para serem votados. Como Editor do blog, o meu objetivo é juntar um grupo de blogueiros que escrevem sobre cinema, para poder contar com eles a cada Lista que o CINEBULIÇÃO fizer. Caso aceite o convite, sua participação será a de jurado efetivo, ou seja, toda vez que eu for organizar uma lista, você será comunicado previamente, informado das regras e do prazo de entrega. A frequência das listas no CINEBULIÇÃO é de uma por mês ou por bimestre, dependendo da pauta diária do blog. Ao aceitar, você se compromete em participar de todas as listas para as quais for informado, exceto na ocorrência de sérios imprevistos; e também terá o seu nome, bem como a indicação do seu blog na lista de JURADOS CINÉFILOS do CINEBULIÇÃO.

Se não for aceitar o convite, por favor, não publique esse comentário.

Se for aceitar, envie um e-mail para: LULGO1@HOTMAIL.COM com os seguintes dados:

Título do e-mail: CONVIDADO PARA O JÚRI

Nome: (coloque o nome que você usa para assinar suas postagens no seu blog, ou seu nome completo, ou pseudônimo com o qual queira participar do Júri. Lembrando que apelidos libidinosos do tipo “Gatinha Manhosa” ou “Morenão Sarado” não serão aceitos).

E-mail oficial: (coloque o e-mail que você checa diariamente. É para ele que serão enviadas as regras para a primeira lista, e todos os outros comunicados do Júri).

Mini-currículo: (ou a chamada “sessão EGO”. Faça um pequeno apanhado das suas atividades, preferências cinematográficas, etc. Não coloque as empresas para as quais trabalhou ou seus desejos ocultos. Lembre-se que esse mini-currículo será exibido logo abaixo do seu nome, na lista dos Jurados.)

Cidade e Estado onde reside: (acho que não é necessário explicar isso. Mas por vias das dúvidas, vai lá: você deve colocar a cidade que você mora, ex.: Recife; e o Estado, nesse caso, Pernambuco.

Caso não responder a esse convite até o dia 31/01/2011, seu convite para a participação do Júri de Cinéfilos do Cinebulição será anulado.

Um abraço. Obrigado.

E parabéns pelo convite. Isso é sinal de que respeito e aprecio sua opinião sobre cinema e o seu trabalho no blog.

p.s.: caso o seu blog tenha mais um editor além de você, será permitida a candidatura desses também. Ele, ou eles, devem seguir as mesmas regras que você. NÃO SERÃO ACEITOS E-MAILS COM MAIS DE UMA APRESENTAÇÃO DE CONVITE.

Dilberto L. Rosa disse...

Olá, Ju: um grande prazer chegar aqui e me deparar com este ótimo espaço dedicado ao Cinema! Preocupada em "não ser crítica"? Bobagem, você descreveu bem: grandes críticos (jornalistas especializados na área cultural) nasceram de grandes adoradores da 7ª Arte como você e eu! Sim, que sou amante inveterado de Cinema (da arte, porque da sala de cinema ando cada dia mais afastado!) e até já presidi um cineclube aqui em São Luís do Maranhão! Também mantenho um blogue onde falo de Cinema, mas, ao contrário de você, não falo só dessa arte... Mas adoraria a sua visita!

Sobre os 'posts' aqui presentes: adorei sua "apresentação" (não se envergonhe, também vi... Lua de... Aquele... Esquece!); adoro Woody Allen e já escrevi vários ensaios sobre sua obra; ainda não vi Scott Pilgrim, mas já está na minha lista; e, quanto a "Antes do Amanhecer" e "Antes do Pôr-do-Sol" são duas pequenas obras-primas do Cinema contemporâneo!

Além de um entusiasta, tal como você, da obra e dos talentos envolvidos, fiquei ainda mais envolvido depois de comprá-los e ver algo parecido ter acontecido comigo "há muito tempo atrás, numa galáxia muito, muito distante..." Mas isso já é outra estória!

Apesar de moderno, encanta no filme, além do encantamento com o acaso na vida de dois personagens adoráveis, a "reinvenção" do uso da câmera como espectadora, estilo vindo dos anos 60/70, especialmente com as inovações da Nouvelle Vague - o que ficou ainda mais evidente no segundo filme (concordo com você, igualmente bom; mas morria de medo de uma continuação...), cujo cenário de fundo é Paris!

No mais, pode "puxar o saco" mesmo, que esse filme merece todos os elogios! Inspiraste-me para falar dele, em breve, no meu espaço virtual!

Abração, já te linquei e até breve!

ANTONIO NAHUD disse...

Sou do fã-clube de ANTES DO AMANECER. Muito belo!
Abração

www.ofalcaomaltes.blogspot.com

Cristiano Contreiras disse...

É um filme muito perfeito mesmo; é real e tocante. A maneira como os atores compõe seus personagens em cena cativa. É fácil nos identificarmos. E é interessante como a continuação é ainda mais saborosa, porque observamos esses mesmos personagens mais maduros e com sonhos quebrados...

seu texto é ótimo!

abraço e aparece!

 
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