Como não perder um ótimo filme?



Respondendo a pergunta-título: Ignorando a tradução idiota do nome original, adaptada para os cinemas brasileiros.

"Como Não Perder Essa Mulher" é "Don Jon", primeiro filme dirigido e escrito pelo promissor Joseph Gordon-Lewitt, que há um certo tempo já tinha nos provado sua competência como ator, mas que agora resolveu mostrar que seu talento não se limita. Partindo da atuação de "bad boy" (ótima o suficiente pra irritar todo o público feminino, haha), passando pelo roteiro consistente até a direção bem particular, que foge do lugar comum, tudo me agradou. Virei fã do rapaz definitivamente.

Infelizmente, a divulgação do filme por aqui (em conjunto com esse nome totalmente inapropriado) leva a crer que se trata de uma comédia romântica leve, opção perfeita para um primeiro encontro ou pra levar sua mãe a um programa de domingo. Pobres daqueles desavisados! 
Os espertinhos que leram a sinopse descobriram que na verdade Don Jon é um cara fútil e viciado em pornografia (esta presente no filme de forma nem um pouco sutil, devo avisar...), mas também não é somente disso que se trata a história central. Mas essa surpresa, sim, é bem-vinda. Mas notei que não foi percebida por todos.

É preciso ver um pouco além para poder admirar Don Jon do jeito merecido. Toda a história é cercada de personagens vazios. É irônico e igualmente admirável que Joseph tenha se apropriado desse tipos para representar a complexidade humana, quando o "comum" é abordar o tema partindo de intelectuais problemáticos, a exemplos dos alter-egos de Woody Allen. A futilidade representada no filme através da grande maioria dos personagens tem um propósito. A crítica a tudo isso que faz o filme ser extremamente interessante.

Ver a transformação do personagem (vale ressaltar, vai além do que é mostrado na sinopse e no trailer) é super divertido (saí do cinema cantarolando "Good Vibrations"), além de ser retratado de um jeito bem crível. A princípio não parece, mas cada segundo do filme tem essa função. Pra fechar, deixo vocês com uma das falas mais legais da minha personagem favorita na história:

If you want to lose yourself, you have to lose yourself in another person.

Pode não ser a única maneira, mas ao meu ver... é a melhor. Para o Jon... Bem, vocês terão que assistir pra descobrir. 

A pedra no sapato

Coisa rara na história do Oscar. Neste ano, o Brasil terá um representante e forte candidato a ganhar como Melhor Documentário no Oscar 2011, o Lixo Extraordinário (2009). A obra une dois opostos: um dos mais influentes artistas plásticos do Brasil, Vik Muniz, e o maior aterro sanitário, não só do Brasil mas do mundo: o Jardim Gramacho. O documentário feito a várias mãos mostra o projeto do artista, famoso por fazer arte usando matérias-prima fora do comum, como por exemplo comida, que desta vez optou por usar lixo, mas não só isso, também fez os catadores do Jardim Gramacho participarem ativamente da criação das obras. Ele faria suas peças a partir de fotografias tiradas dos mesmos, e aparentemente era nisso que se consistia o documentário. Porém a história da cada um dos catadores, e a maneira como todo o projeto mexeu com eles e com o próprio Vik foram ganhando vida, fazendo com que a confecção da arte e a mudança que ela causou na vida daquelas pessoas ocupassem um mesmo espaço e importância dentro do documentário. A criatividade de Vik, a lição passada, e a emoção causada (pessoas de todas as idades chorando no fim da sessão que assisti), tudo isso trazendo a esperança da produção quase 100% brasileira conquistar o tão almejado prêmio. Tem tudo pra ganhar. Será? Talvez, se não fosse pelo que eu poderia chamar de atual pedrinha no sapato de Vik Muniz: um dos outros concorrentes na disputa por Melhor Documentário, Exit Through The Gift Shop (2010). Por uma infeliz (para os realizadores de "Lixo Extraordinário") coincidência, o documentário também fala de arte. Mas não fala de seu poder transformador, nem do quanto ela é essencial, nem nada disso que costumamos ver em obras sobre o tema. Exit Through The Gift Shop aponta o dedo na cara do cenário da arte moderna atual e dá gargalhada. Questiona os rumos que a arte seguiu ao longo dos anos até chegar nos dias de hoje, e na mudança não só da arte mas da maneira como ela é vista. Não é mais preciso ter algum sentido? A arte não precisa mais dizer, apenas ser? Hoje em dia qualquer um pode ser artista, e a publicidade e a arte andam de mãos dadas? Essas são algumas das questões levantadas.

O filme é de autoria de Banksy, o artista de rua mais influente da atualidade. Suas obras, antes somente expostas pelas ruas gratuitamente pra quem quisesse ver, hoje em dia é vendida por milhares de dólares em casas de leilão requintadas. Sua exposição, visitada por artistas de Hollywood. Tudo isso é mostrado no documentário. Mas a história não gira em torno de Banksy, mas sim de Thierry Guetta, um excêntrico imigrante francês em Los Angeles, pai de família que possuía uma loja de roupas e tinha o estranho hábito de filmar todo o seu dia-a-dia, incansavelmente. Até que conhece o trabalho de seu primo que é artista de rua, cria peças baseadas no jogo Space Invader e sai espalhando-as por aí. Thierry fica então obstinado a acompalhá-lo em suas aventuras e registrar tudo, a atividade torna-se um vício e em pouco tempo ele já está registrando não só o trabalho de Space Invader mas também de vários outros artistas de rua, inclusive de Banksy. Nessa primeira metade do documentário podemos conferir diversos trabalhos, muitos deles realmente inspiradores. Apesar da ilegalidade nas suas atitudes, é impossível ficar indiferente à street art e não reconhecer o talento dos seus artistas.
Em meio a isso tudo, Banksy, percebendo a falta de talento de Thierry para o cinema, "inocentemente" sugere a ele que tente fazer arte e que exponha seus trabalhos, e chame "algumas pessoas". Considerando a natureza extremista de Thierry, obviamente a coisa toma grandes proporções. Aí surge aquele questionamento que fiz antes: Qualquer um pode ser artista? Analizando a trajetória de Thierry, aparentemente hoje em dia não é necessário muito pra isso, se for esperto, ousado e fugir das regras. Mas isso é necessariamente ruim ou é somente uma mudança, comum com o passar dos anos e a transformação da sociedade e seu modo de viver e pensar? Isso rende discussões intermináveis.
Tudo isso já seria o bastante para Exit Through The Gift Shop ser um sucesso e merecidamente um dos concorrentes ao prêmio da academia. Mas além disso tudo, cada minuto do documentário, e o próprio Thierry por si só, fez com que muitos questionassem a veracidade dos fatos. Cogita-se a possibilidade de tudo ser uma farsa criada por Banksy, que em seu trabalho sempre cutucou, questinou e criou controvérsias assim como em seu documentário. Seria tudo um filme muito bem feito para parecer um documentário, criado para Banksy divulgar a street art e continuar seu trabalho usando uma outra linguagem, dessa vez a cinematográfica? Parece que sim, e tudo isso faz o documentário(?) ser ainda mais original. E infelizmente reduz o impacto causado por Lixo Extraordinário.
Os dois apresentam, cada um a seu modo, o efeito que a arte pode causar nas pessoas. Enquanto um sustenta o lado positivo e tradicional o outro apresenta diversas nuances, a princípio destacando os belíssimos trabalhos dos talentosos artistas de rua espalhados pelo mundo mas também se faz notar que o significado da arte se perdeu(ou se modificou) com o tempo. Lixo Extraordinário e Exit Throught The Gift Shop trouxeram à academia assuntos importantes no que se dá respeito à arte moderna, cada um a seu modo. Resta saber se o que preza pela emoção vai ganhar, ou o que diverte e polemiza, ou nenhum dos dois. Mas ambos tem seu mérito.

Lixo Extraordinário ~ Trailer
Exit Throught The Gift Shop ~ Trailer

Hotaru no Haka






Por que as animações blockbusters de antigamente eram em sua maioria musicais e hoje em grande maioria são comédias? Eu sei que atrai muito o público infantil, mas não é o único público. Sou a favor de explorarem mais outros gêneros, como no belíssimo japonês Cemitério dos Vagalumes. (Hotaru no Haka, 1988)

OBS.: Leitores, minha ausência é por motivo de força maior, mas em breve voltarei a postar com a frequência de antes e a visitá-los em seus respectivos blogs. ^^ Saudades de todos, até breve!

Porque ela é mais do que uma Holly Golightly

Em uma época que o padrão de beleza feminina eram muitas curvas e olhos claros, ela ganhou destaque com seu corpo esguio, olhos e cabelos castanhos e uma graciosidade fora do comum. Ao longo da carreira, estrelou muitos filmes de sucesso e colecionou fãs entre anônimos e famosos, que ao trabalhar com ela se encantavam com seu charme, simpatia e simplicidade. Dedicou seus últimos anos de vida trabalhando incansavelmente como embaixatriz da Unicef, viajando pelo mundo e dando palestras.
Atualmente, é lembrada por seu talento, beleza única e por ser um ícone de elegância e estilo até hoje. Além de ser linda por fora, também foi um exemplo de humildade e gentileza.
Por essas e outras sou fã da Audrey Hepburn! Acho que pelo visual do blog, vocês leitores nem tinham notado, né? Haha!
Cinéfilos como são, possivelmente vocês já devem ter passado por alguma situação parecida com essa, que é corriqueira pra mim. É só eu comentar que a adoro que, em média, recebo dois tipos de reações diferentes. A primeira é dos que não a conhecem de nome, mas quando é citado “Bonequinha de Luxo” automaticamente ela é lembrada. A segunda é dos que abrem um sorriso e dizem “Ah, claro que conheço, é aquela de Bonequinha de Luxo, né?”.
Confesso, conheci Miss Hepburn com esse filme, assim como uns 99% dos seus fãs. A moçinha se tornou sinônimo de elegância com o Breakfast at Tiffany’s. E a fotografia é fantástica, nunca vi NY tão linda em um filme como nesse. Como não fixar os olhos nela, toda trabalhada no pretinho básico, exalando sofisticação numa das aberturas mais clássicas do cinema? Não tenho absolutamente nada contra o filminho (vide o header deste blog), ao contrário, tenho um enorme carinho por ele. Mas expandi meus horizontes, o que adoro fazer quando um assunto em específico ganha minha atenção. E foi assim com Audrey, então vamos ao que interessa. Listarei alguns dos meus filmes favoritos com ela que valem muito a pena serem assistidos, alguns muito bem conhecidos pelos amantes de filmes clássicos, outros nem tanto. Além de tomar café na Tiffany’s, a eleita mulher mais bonita do século XX também já foi princesa, filósofa, ladra, cega e bateu recorde em personagens que passam por transformações.

A Princesa e o Plebeu (Roman Holiday, 1952)
Direção de William Wyler
Roteiro de Dalton Trumbo, Ian McLellan Hunter
Personagem de Hepburn: Princesa Ann

Esse é quase tão popular quanto Bonequinha de Luxo, e para mim superior em alguns aspectos e mais agradável de se assistir. Primeiro grande filme com Hepburn, que deu a ela seu primeiro e único Oscar como Melhor Atriz (ao todo ela recebeu 6 indicações ao longo da carreira no cinema). Audrey interpreta uma princesa em viagem a Roma que resolve fugir e curtir um dia como uma pessoa normal, na compania de um jornalista interesseiro mas que não consigo odiar por que é interpretado pelo charmosíssimo Gregory Peck. Minha comédia romântica favorita.
“A” cena: Adoro os primeiros minutos da princesa Ann sozinha em Roma, se permitindo fazer várias coisas impulsivamente, como mudar radicalmente o visual e tomar sorvete admirando a vista.

Sabrina (1954)
Direção de Billy Wilder
Roteiro de Billy Wilder, Samuel A. Taylor, Ernest Lehman
Personagem de Hepburn: Sabrina

Dessa vez a “plebéia” é Audrey, que depois de uma bela transformação de visual e atitude, é disputada por 2 milionários. Início de sua parceria com Givenchy, usou três visuais do seu acervo da coleção anterior. Aí que você leitor se pergunta: “Por que raios ele não desenhou modelos exclusivos para Hepburn?”. Acontece que na época, Audrey ainda não tinha uma grande popularidade, pelo menos não para Givenchy. Quando lhe avisaram que Miss Hepburn estava a sua espera, o estilista se decepcionou quando viu quem era. Ele pensou que era Katherine Hepburn, estrela da época, e não uma atriz iniciante. Mas logo após isso nasceu uma longa amizade/parceria entre os dois que durou décadas.
Curiosidade: O filme “Sabrina” rendeu um remake de 1995 de mesmo nome, com Julia Ormond e Harrison Ford.
“A” cena: Sabrina cantando no carro. Sua única chance de ver Audrey Hepburn cantando “La Vie An Rose” para Humphrey Bogard.

Cinderela Em Paris (Funny Face, 1957)
Direção de Stanley Donen
Roteiro de Leonard Gershe
Personagem de Hepburn: Jo Stockton

Para o mundo fashion, “Cinderela Em Paris” talvez seja equivalente à “O Diabo Veste Prada” dos anos 50 em relação a referências ao mundo da moda.
Na minha humilde opinião, dessa lista foi o que soou mais ultrapassado com o passar do tempo. Nesse filme, a maioria das músicas soam como de um musical do século passado de fato, apesar de mesmo assim eu adorar a seqüência “Think Pink” da abertura! A protagonista, que mais uma vez interpreta um “patinho feio”(só aos olhos dos personagens, diga-se de passagem), passa de vendedora e aspirante a filósofa para uma supermodelo. Detalhe: seu primeiro trabalho, como sugere o título em português, é em Paris e é preciso que a convençam de aceitar. Ah que bom seria se o mundo real fosse como Hollywood nos anos dourados. xD
A fotografia é bem colorida, alegre, e alguns números são extremamente fofos. E impossível não comentar que o par romântico de Audrey é o mestre da dança Fred Astaire, que algumas vezes rouba a cena com estilo.
Curiosidade: Segundo Sean, filho de Audrey, ela sempre dizia que Funny Face foi o filme em que mais se divertiu durante as filmagens.
“A” cena: Primeiro beijo da Jo Stockton e seu número musical logo em seguida.

Infâmia (The Children’s Hour, 1961)
Direção de William Wyler
Roteiro de Lilian Hellman
Personagem de Hepburn: Karen Wright

Nessa lista também cabe filme polêmico. Se uma relação homossexual entre duas professoras poderia ser tabu para muitos hoje em dia, imagine em 1961? Mas não, Audrey não interpreta uma lésbica. Na verdade, como a tradução do título para o português já diz (erro magistral já que o spoiler já vem no título), trata-se de uma infâmia inventada por uma criança totalmente DO MAL. Ou pelo menos é o que os detalhes sutis ao longo do filme nos fazem acreditar, pois assim como em Bonequinha de Luxo que também trazia conteúdo “polêmico” no roteiro, tudo é tratado com muita delicadeza, elegância e requinte. A fotografia em preto e branco reforça a seriedade do tema, que deixa tudo mais pesado e dramático, além das ótimas atuações de Hepburn e Shirley McLayne.
“A” cena: A longa conversa entre as duas professoras, refletindo o impacto que a situação causou nelas.

My Fair Lady (1964)
Direção de George Cukor
Roteiro de George Bernard Shaw, Alen Lerner
Personagem de Hepburn: Eliza Dollitle

Mais um para a lista de filmes em que a personagem de Audrey se transforma(é de longe a transformação mais evidente). Conta a história do famoso professor de fonética Henry Higgins (Rex Harrisson) que aposta com um amigo que transformaria uma pobre e simples florista em uma dama em pouco tempo. Adaptação do cinema para um famoso espetáculo da Brodway com o mesmo nome, esse é um must-see para os apaixonados por musicais e fotografia cinematográfica. É simplesmente estonteante, em muitos momentos me senti olhando para um quadro renascentista em movimento. Visual meticulosamente bem feito. Mas felizmente não pára por aí. O roteiro divertido e envolvente e musiquinhas chicletes também fazem de My Fair Lady um clássico atemporal!
“A” cena: Pensei numas cinco, não consigo escolher só uma.

Como Roubar Um Milhão de Dólares (How To Steal a Million, 1966)
Direção de William Wyler
Roteiro de George Bradshaw, Harry Kurnitz
Personagem de Hepburn: Nicole Bonnet

Essa comédia romântica com toques de suspense é bem divertida, deixa um gostinho de quero mais depois. Nossa querida interpreta a filha de um rico falsificador de arte, que está prestes a ser desmascarado. Para salvar o pai, ela conta com a ajuda de um ladrão para retirar a escultura falsificada de Cellini de um museu antes que descubram ser falsa. Ambos tramam um plano para entrar no museu durante a noite sem que os percebam, o que é uma missão praticamente impossível. Ah, e eu falei de romance? É claro que ela e o ladrão se apaixonam durante a falcatrua toda. Mas o ponto forte do filme com certeza é o plano do roubo sendo executado, foi desenvolvido com muita inteligência e ficou muito envolvente.
“A”cena: Toda a sequência com Audrey e Peter O’Toole dentro do armário.

Um Clarão Nas Trevas (Wait Until Dark, 1967)
Direção de Terence Young
Roteiro de Frederick Knott, Robert Carrignton
Personagem de Hepburn: Suzy Hendrix

Sim, ela também fez suspense! E dos bons! Pena que é tão pouco conhecido pelo grande público. Audrey Hepburn é Susy Hendrix, uma cega que é incentivada pelo marido fotógrafo a ser o mais auto-suficiente possível. Ele a deixa sozinha em casa por alguns dias para viajar a trabalho, e durante sua ausência um trio de bandidos invadem sua casa procurando drogas que acreditam estar lá. A história deste filme se passa quase que totalmente dentro de uma pequena casa, com pouquíssimas cenas externas. Isso deixa o clima ainda mais tenso, até mesmo claustrofóbico, e foi muito bem escrito, com detalhes bem amarrados. Me lembrou bastante o Festim Diabólico (Rope, 1948), de Hitchcock. Aliás, todo o clima de suspense do filme lembra e muito as técnicas usadas com maestria pelo tio Hitch. Os criadores devem ter se inspirado nele.
Curiosidade: o vilão master do filminho é interpretado brilhantemente por Alan Arkin, que ainda trabalha como ator e a poucos anos atrás recebeu um Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por “Pequena Miss Sunshine” (Little Miss Sunshine, 2006).
“A” cena: O confronto final entre Suzy e o bandido, extremamente tenso.

Done. E quanto a vocês? Quais seus filmes favoritos com Miss Hepburn?

Dica: Se você não me abandonou no meio do texto, imagino que também adore Audrey, certo? Sendo assim, indico o ótimo post “The Audrey Hepburn Treasures” da Danielle Crepaldi, editora do blog O Filme Que Vi Ontem. Nele você vai conferir arquivos contidos no livro que dá nome ao post, como antigas cartas, parte de roteiros de seus filmes mais famosos, até mesmo um desenho feito pela própria Audrey, entre outros materiais retirados do acervo pessoal da atriz. Recomendadíssimo!

Marcante


Esse post não é uma resenha. Pode ser classificado como homenagem, puxa-saquismo, ou o que vocês acharem mais apropriado xD. O caso é que sou suspeita pra falar de um filme que sou fã. Eu queria fugir do óbvio e não falar do meu filme favorito logo nos primeiros posts, mas foi mais forte do que eu. Se eu não o fizesse logo, teria a impressão de que o blog não é meu.
Dezenas de amigos e conhecidos foram bombardeados com minhas indicações fervorosas para assistirem Antes do Amanhecer (Before Sunrise, 1995), agora chegou sua vez, querido(a) leitor(a). Por sorte as pessoas com quem convivo em sua maioria são sensíveis o suficiente para enxergar a beleza e a profundidade dessa obra que para alguns soa monótona. Digo isso porque Antes do Amanhecer é daqueles filmes que as pessoas amam ou odeiam. Mas ficar indiferente é impossível. E ele tinha tudo pra dar errado. Notem a sinopse (by cineplayers):
Jesse (Ethan Hawke) conhece Celine (Julie Delpy) em um trem pela Europa e se identifica bastante com o seu jeito. Ele acaba a convencendo a descer na mesma estação que ele, para ficarem juntos uma noite inteira, já que ele pegará o avião de volta para os EUA pela manhã. Só que nesta noite uma paixão avassaladora irá surgir entre os dois, tornando o inevitável e próximo adeus cada vez mais difícil.
Pois bem. Eu, que vejo todos os filmes de romance que tenho chance, notei o grande potencial dessa história se tornar um filme de amor água com açúcar, e daqueles bem clichê, ao ler a sinopse. Porém o lindo Richard Linklater, diretor e roteirista em parceria com Kim Krizan, fez uso da simplicidade do enredo um trunfo para desenvolver o filme de amor possível mais gostoso que já vi, e como bônus contemplamos lindas imagens de diversos cantos de Viena, que entrou para meu top 10 de lugares que quero conhecer.
Acredito que quanto mais simples é a história, mais difícil e desafiador é para envolver o público, fazer com que queiram assistir o filme até o fim, e a dupla de roteiristas fazem isso de forma brilhante com um roteiro repleto de longas conversas, que nos fazem conhecer os protagonistas profundamente, ao mesmo tempo em que nos faz refletir junto com eles sobre diversas questões sobre a vida e o mundo em assuntos que não ficaram nem um pouco ultrapassados com o passar dos anos, como a relação dos filhos com os pais, vida e morte, religião, choque entre culturas, amor e relacionamentos. Tudo isso com a naturalidade incrível dos protagonistas, que carregam o filme praticamente sozinhos, tendo muito breves participações de poucos coadjuvantes que nada interferem na história em si, só trazem a tona mais assuntos interessantes para o casalzinho destrinchar. Eu realmente sinto que estou observando-os e percebendo junto com eles o afeto e a paixão crescendo entre Celine e Jesse, ao mesmo tempo em que meu afeto por eles também vai crescendo junto.


Antes do Amanhecer redefiniu minha concepção do que seria um relacionamento ideal. A todo tempo somos cercados de filmes com Romeus e Mr. Darcys, homens perfeitos demais e mulheres que mais parecem super modelos, fazendo os mais ingênuos acreditarem num ideal de amor fantasioso, piegas e que não existe no mundo real, o que de certo modo entretém e cria esperanças, porém também frustra e nos faz distorcer a realidade. Aqui podemos conferir personagens parecidos com aquele seu colega da faculdade, ou com uma moça que você pode encontrar na fila do banco, mas que tem seu carisma e brilho próprio, o que faz deles tão especiais e únicos, mas do que qualquer personagem criado para se encaixar perfeitamente dentro de um estereótipo.
Em Antes do Amanhecer não existem vilões, eles não tem lugar nenhum em específico para visitar nem nenhum problema a resolver ou mistério a solucionar. A história trata-se apenas de duas pessoas compartilhando algo especial, experimentando uma conexão que acontece raras vezes na vida, por pura coincidência, ou destino, fica por sua conta decidir. Assim como fica por sua conta tirar suas conclusões sobre como terminará a história, enquanto sente um absurdo vazio ao ver pela última vez no filme uma compilação dos lugares em que o casal passou, depois que o dia amanheceu. Um final irritantemente perfeito (você entenderá quando ver), que foge do óbvio e dá ainda mais crédito para um filme tão original. Esse recurso usado por Richard Linklater deixa bem claro o quanto nos envolvemos com a história, que é daquelas que ficam na gente depois que acaba.

Trailer.

Observação 1:
Tem mais.
Curioso(a)? Ficou com saudade deles quando o filme acabou? Pois em 2004 foi filmada a continuação, que recebeu o nome Antes do Pôr-do-Sol (Before Sunset), com o mesmos atores, diretor e roteirista, com o diferencial de receber a colaboração dos próprios atores para escrevê-lo, que recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, merecidíssimo.
Só procure se informar sobre este quando assistir o Antes do Amanhecer, ou boa parte do elemento surpresa se perderá. Mas posso dizer que conseguiram retratar bem como aquela noite e a mudança do tempo afetou os personagens, seguindo a mesmo estilo do primeiro: muita conversa e lindas locações.
Uma das raras vezes que uma continuação mantém o mesmo nível do filme anterior.

Observação 2:
Before Sunrise versão nacional.
Em 2009 o universitário carioca Matheus Souza filmou seu primeiro projeto, tudo dentro do campus da faculdade em que estudava. Dá pra notar com muita clareza que Apenas o Fim foi diretamente inspirado na “bilogia” aqui citada do Linklater, passando pelo estilo do roteiro até a direção. Por conta disso ainda não consegui perceber se adorei ou detestei, porque o excesso de semelhanças me causou um certo incômodo (vocês entendem, né, filme favorito...). Não sei ainda se o considero como um plágio ou como uma homenagem. Mas recomendo para aqueles que curtem o estilo, é super bem feito e faz ótimas referências a cultura pop dos anos 90, elementos que marcaram a infância e adolescência dos jovens hoje na faixa dos 20 anos. Um filme com uma proposta diferente das que costumamos ver no cinema nacional.
 
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